quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ALEMÃES E JUDEUS EM ROLÂNDIA A PARTIR DE 1942

Com a Noite dos Cristais. O pretexto para este fato foi o assassinato de um alto funcionário da embaixada alemã na França por um judeu, o que acarretou  a destruição de Sinagogas, casas comerciais e residências e acirrou a perseguição aos judeus.  Cerca de 30.000 homens judeus foram levados para campos de concentração e 300 judeus foram assassinados, alem de muitos feridos. Só em Viena, 42 sinagogas foram destruídas e 7.700 judeus presos, sendo registrados 680 casos de suicídio[3].               
 Com esses episódios, culminando com a Kristallnacht, começam a vir para o Norte do Paraná vários políticos, católicos e judeus, fugindo da política nazista. Desta maneira os colonos que se estabeleceram na Gleba Roland eram em sua maioria, da classe média urbana: comerciantes, advogados, políticos, intelectuais, médicos, economistas, artistas e alguns poucos agricultores. Nos trópicos tiveram de se acostumar com o novo país, com uma nova cultura, idioma e com um novo tipo de trabalho.  
 Nesse processo de emigração, que vai até o início da Segunda Guerra Mundial, o governo alemão impôs novas determinações proibindo a saída de dinheiro da Alemanha. Para resolver tal impasse foi realizado um intercâmbio entre a Cia. de Terras e os imigrantes.
 Através deste intercâmbio, Erich Koch-Weser e Johannes Schauff - representantes da companhia inglesa na Alemanha – e os alemães sob risco forneciam o dinheiro para compra do material para a construção de uma estrada de ferro, ligando o Paraná ao Rio Grande do Sul e em troca, recebiam títulos conhecidos como "cartas de terra", que davam o direito de adquirir terras em Rolândia.
Constata-se nesse episódio que  a Companhia de Terras efetuou o negócio com a Alemanha e não com a Inglaterra, possibilitando que parte da população perseguida deixassem o seu país como proprietários de terras.
Entre 1934 e 1938 cerca de 400 famílias de origem alemã se estabeleceram na Gleba Roland, e destes, cerca de 80 (OITENTA)  eram de origem judaica. Porém sem serem necessariamente religiosos, pois muitos eram frutos de casamentos mistos, outros assimilados e outros ainda convertidos ao luteranismo ou catolicismo. Gert Koch-Weser, filho de um dos fundadores, afirmou que entraram em Rolândia cerca de 400 famílias de alemães, sendo 80 de judeus classificados como: 10 puros, 15 considerados judeus por Hitler, 10 políticos e 45 judeus de religião católica.
No entanto, havendo um numero tão grande de judeus na região, nunca chegou a constituir uma comunidade judaica na região, já que para a criação de um ishuv seria necessário uma sinagoga, um cemitério e um açougue Kasher.
Esse fato – a não criação de uma comunidade judaica - cria uma serie de especulações. O primeiro argumento alegado seria a falta de um Mynian (10 homens)para os ofícios religiosos. Porém destas famílias que vieram, onze delas tornaram-se sócias da Congregação Israelita Paulista (CIP) e uma ligou-se a uma sinagoga em Curitiba.  Outro argumento que se coloca é que em Rolândia, durante a guerra, grupos de nazistas também se estabeleceram, fundando um clube germânico (CLUBE CONCORDIA), e talvez por receio que os episódios ocorridos na Alemanha se repetissem em um local recôndito no Brasil, teria inviabilizado a constituição do ishuv. Um terceiro argumento pode ser relativo aos casamentos mistos entre judeus e cristãos – católicos ou luteranos – o que comprometia a transmissão da tradição judaica. Porem o que ressalta é o fato que estes judeu-alemães que se estabeleceram em Rolândia estavam estreitamente ligados a cultura germânica, e nesse sentido, ao invés de estabelecerm um ishuv, criaram um clube cultural chamado Pró-Arte. Neste clube os judeus de origem alemã se encontravam para poder falar a língua alemã, dançar, fazer saraus literários, ouvir palestras e assistir a peças de teatro.
Embora na cidade não tenha constituído uma comunidade judaica, estes judeus que lá se estabeleceram, na hora de sua morte reassumem a sua identidade religiosa, por isso é comum em cemitérios de Rolândia, encontrar túmulos com características judaicas.

A contextualização da imigração judaico-alemã para Rolândia: aportes históricos

Daniel Bruch Duarte
Livia Harfuch
Fabrício Umberto Mardegan
Dr. Marco Antonio Neves Soares (orientador)

[1] PRÜSER, Friedrich, O “Roland” e Rolândia in Roland und Rolandia: Zu Aufrichtung eines Bremen Rolandes im brasilianischen Rolandia, p.127. Bremen: Internationale Verlagsgesellschaft, Robert Bargmann, 1957.
[2] Cf. MAIER, Max Hermann, Um advogado de Frankfurt se torna cafeicultor na selva brasileira: relato de um imigrante (1838-1975) – tradução de Mathilde Maier e Elmar Joenck do original alemão Ein Frankfurter Rechtsanwalt wird Kaffeepflanzer im Urwald Brasiliens: Bericht eines Emigranten 1838-1975. Frankfurt am Main: Josef Knecht Verlag, 1975.
[3] BOSCHETI, B. P., Hitler i il Nazismo: verso la guerra (1933-1939). Veneza: Arnoldo Mondadori, 1981.
[4] Cf. KOSMINSKY, Ethel, Rolândia, a terra prometida: judeus refugiados do nazismo no Norte do Paraná,SP: CEJ/USP, 1985; também MAIER, Max Herman, op. cit. p. 20
[5] Cf. OBERDIEK, Hermann, Fugindo da morte: imigração de judeus alemães para Rolandia-Pr, na década de 30.Londrina, Ed Uel. 1997

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