segunda-feira, 27 de março de 2017

FOTO DO INTERIOR DO HOTEL ROLÂNDIA ( JÁ DEMOLIDO )

FOTOS By ANTONIO CARLOS ZANI


CASAS DE MADEIRAS ZONA RURAL DO NORTE DO PARANÁ

FOTOS By ANTONIO CARLOS ZANI - LIVRO ARQUITETURA EM MADEIRA














































































ERICH e GEERT KOCH-WESER - PIONEIROS EM ROLÂNDIA - PR. BRASIL


A salvação na floresta 


Norte do Paraná serve de refúgio a perseguidos dos nazistas, entre eles um menino que é hoje vice-ministro de Finanças da Alemanha 

Lembrança

Geert Koch-Weser, hoje de volta à Alemanha, viveu na fazenda Janeta entre 1934 e 1969 e ainda sente saudade dela. Os cabelos brancos como neve jogados para trás exibem uma fronte ampla com poucas rugas e uma fisionomia tranquila, mas ligeiramente severa. A expressão marcante do rosto é dominada por olhos azuis muito claros, sugestivos, vivos. Olhos de quem pôde chegar aos 94 anos com aparência de pouco mais de 80, depois de atravessar, ora como testemunha, ora como ator, quase todo o século. O alemão Geert Koch-Weser, nascido em 1905 numa pequena aldeia da região de Bremen (Bremerhaven), nas margens do Rio Weser, mal consegue falar o português. Mas demonstra forte emoção quando lembra "dos mais bonitos anos" de sua vida, 35 ao todo, passados no norte do Paraná, onde ajudou a fundar o núcleo agrário e, mais tarde, a cidade de Rolândia, a cerca de 40 quilômetros de Londrina. 


Resultado de uma das últimas levas da imigração alemã para o Brasil, iniciada há 175 anos, ainda no Império, com a fundação de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, Rolândia tem uma história singular. Foi síntese e espelho dos dramáticos anos 30 e 40. Começou como válvula de escape para o desemprego e a miséria que grassavam na República de Weimar, enterrada em fevereiro de 1933 pela ascensão de Hitler. Rolândia desenvolveu-se ao tornar-se um porto seguro para intelectuais, religiosos, políticos e judeus perseguidos pelo nazismo. 


Em 1930, dois jovens agrônomos alemães, amigos de infância em Bremen, se encontraram nos Estados Unidos. Estavam de volta para casa. Geert vinha de experiências na Rússia, China, Japão e Canadá. Oswald Nixdorf, dois anos mais velho, chegara de Sumatra, na Indonésia, onde trabalhava com colonização. Especializado em agricultura tropical, ele também se aventurara mundo afora, em busca de experiência e sustento. "Disse a Nixdorf que meu pai, ministro na Alemanha, precisava de alguém para iniciar um projeto de colonização no Brasil", diz Geert, com uma lembrança ainda fresca, 70 anos depois. 


Erich Koch-Weser, seu pai, deputado por um partido liberal e ministro do Interior do governo alemão, era, desde 1929, presidente da Sociedade de Estudos Econômicos do Ultramar. Criada em 1927, a instituição tinha como objetivo encontrar saídas para o grande desemprego na Alemanha. Através dela, Erich Koch-Weser negociou com os ingleses da Companhia de Terras Norte do Paraná a compra de uma gleba para instalar a colônia alemã. "Em 1932, meu pai enviou Nixdorf para que pudesse fazer os preparativos para a chegada dos primeiros colonos", lembra Geert. 


Nixdorf foi mais do que entronizador. A Mata Atlântica era fechada, as condições de trabalho severas. "Para os colonos, a maioria desorientados, ele foi um conselheiro muito camarada, altruísta e, com seu grande otimismo, encorajador", disse Geert em depoimento sobre Rolândia para o Instituto Hans Staden, em 1986. Ao todo, 400 famílias alemãs ou de origem alemã foram para a região. A maioria era de colonos nascidos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Cerca de 80 famílias, que chegaram entre 1932 e o início da Segunda Guerra, eram de católicos, protestantes, políticos, intelectuais e judeus que fugiam do nazismo. Entre eles, o próprio Erich Koch-Weser, o filho Geert e o mais jovem deputado alemão da época, Johannes Schauff, ligado à hierarquia católica. Anos depois, muitos fizeram o caminho de volta, como o próprio Geert, seu filho Caio Koch-Weser, hoje vice-ministro de Finanças da Alemanha, e o amigo Bernd Nixdorf .


Antes de deixar a Alemanha, em 1939, Schauff representava a empresa que controlava a Companhia de Terras Norte do Paraná, a Parana Plantations, sediada em Londres. Geert lembra ter sido intermediário de uma operação concebida por Erich Koch-Weser ou Oswald Nixdorf, conhecida como "operação triangular". Por ela, 25 famílias judias puderam escapar do destino trágico em campos de concentração. Também foram beneficiados não-judeus. Com a intermediação da empresa, indústrias alemãs vendiam aos ingleses material para a construção da ferrovia que ligava a região à Alta Sorocabana. Os emigrantes pagavam o material, após vender suas propriedades, e recebiam cartas com que podiam adquirir lotes na colônia de Rolândia. "É comum vermos até hoje, no material ferroviário, registro da procedência alemã", diz Klaus Nixdorf, filho de Oswald, morador de Londrina. 


Foi graças a essa operação que a família de Cláudio Kaphan pôde sair de Sczezin, na Pomerânia, atual região polonesa, e fixar-se em Rolândia. Hoje com 73 anos, Kaphan tinha 10 quando chegou ao Brasil. "Como meu pai era agricultor na Pomerânia, não tivemos tanta dificuldade para trabalhar a terra", lembra Kaphan. Contrastavam com as outras famílias judias e alemãs, chefiadas por representantes da intelectualidade berlinense. Mas o futuro estava lançado e convinha adaptar-se. Como se adaptaram os herdeiros de Schauff, entre eles o filho Nicolau e irmãos. Dono de fazenda em Rolândia, Nicolau Schauff foi um dos fundadores de uma das mais bem-sucedidas cooperativas agrícolas do país, a Corol, hoje presidida por um descendente de italianos. 


Ironicamente, quem mais teve de lutar para vencer a adversidade foi o precursor Oswald Nixdorf. Enquanto a maioria ganhava dinheiro com o boom do café, na década de 50, Nixdorf sustentou um processo de dez anos contra o Estado brasileiro para reaver suas terras. Acusado durante a guerra de ser representante do governo nazista, amargou a expropriação e seis meses de prisão em Curitiba. Quando conseguiu recuperar a fazenda, o boom do café havia passado. Até hoje existem feridas abertas entre os que participaram da saga de Rolândia, embora elas já não sangrem. Nixdorf é figura polêmica entre algumas famílias. Uma ampla reconstituição histórica ainda está por ser feita. 

Edmundo M. Oliveira, de Munique e Rolândia

domingo, 26 de março de 2017

ROLÂNDIA PERDE MAIS UM MARCO HISTÓRICO, TURÍSTICO E ARQUITETONICO

CASA SEDE DA FAZENDA JANETA


ESTA CASA TINHA UMA ARQUITETURA ÚNICA E MUITO INTERESSANTE. FOI PESQUISADA INCLUSIVE PELO CURSO DE ARQUITETURA DA UEL. FAZ PARTE E TEM UMA CAPÍTULO ESPECIAL NO LIVRO DE AUTORIA DE ANTONIO CARLOS ZANI, "ARQUITETURA EM MADEIRA". DESCREVE COM TODOS OS DETALHES AS CONSTRUÇÕES JUDAICO/ALEMÃS  DE ROLÂNDIA E SUAS FAZENDAS BELÍSSIMAS. NÃO SOMENTE A FAZENDA JANETA, MAS TAMBÉM A VEZERODA, SANTA CRUZ, BIMINI, OSTRA E GILGALLA.

A CASA E A FAZENDA É INDICADA COMO UM DOS PONTOS TURÍSTICOS DE ROLÂNDIA, EM VÁRIOS SITES (INCLUSIVE PELO MUNICÍPIO). CLIQUE. SITE DO GOV DO PARANÁ

RECENTEMENTE O RENOMADO PROFESSOR MARCO ANTONIO NEVES SOARES, DE DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA UEL ENVIOU UMA CARTA À FOLHA DE LONDRINA COM O TÍTULO "CASAS E PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ROLÂNDIA E DO NORTE DO PARANÁ", JÁ RECLAMAVA DAS MUDANÇAS FEITAS NA ARQUITETURA DA CASA SEDE DA FAZENDA JANETA, SEM NENHUM ACOMPANHAMENTO TÉCNICO.

A CASA POSSUÍA CERCA DE 4 PASSAGENS SECRETAS. DE UM ARMÁRIO EMBUTIDO DE UM QUARTO A PESSOA PODIA PASSAR PARA O OUTRO QUARTO, E ASSIM SUCESSIVAMENTE, POR MAIS QUARTOS ATÉ SAIR NA VARANDA EXTERNA, OU NO PORÃO.


A Fazenda Janeta cuja denominação surgiu por acaso, quando Dr. Erich Koch Weser e sua esposa (pioneiros e proprietários originais da fazenda) conversavam com os dois filhos, cujos apelidos são Jan e Eta, descobriram que a aglutinação desses nomes, poderia resultar no vocábulo Janeta, nome este que batizaram a propriedade. Sua sede foi construída nos anos 30, em peroba rosa, por carpinteiros alemães.

A inventariante, disse que resolveu desmanchar a casa por causa das constantes invasões e depredações. Antes que algum vândalo ateasse fogo na mesma.

A vocação natural desta casa era ser transformada em uma pousada ou preservada como marco histórico, não só de Rolândia, mas de todo o norte do Paraná. Respeitamos a decisão dos herdeiros. 

Deus abençoe a todos.

quarta-feira, 15 de março de 2017

A RELAÇÃO PARCIAL DOS REFUGIADOS EM ROLÂNDIA ( JOHANNES SCHAUFF )

www.arqshoah.com.br

SCHAUFF, JOHANNES


Data de Nascimento: 19/12/1902

Data de Falecimento: 19/05/1990

Nacionalidade: Alema 

Naturalidade: Stommeln - Koln (Colonia) 

País: Alemanha

Religião: Catolico

Profissão: Politico

Instituição/Associação: Banco Warburg; Parana Plantations London; Cia de Terras Norte do Parana

Cargo / Função: Deputado pelo Partido do Centro 

Tempo de exercício: 1930 a 1933

Relação de pessoas:

Lista de nomes das famílias refugiadas em Rolândia (Paraná) localizada no arquivo particular de Schauff:

Fendel; Schlieper, Stettiner; Koch-Weser; Fust; Dr. Nau; Schauff-Mager; Dietz; Giesen; Bredemann; vom St. Raphaelsverein; bismark; Schrank; Hasselberger; Hans; Graf Galen; Pöhlmann; Fritzsche; Sekles; Kirchheim; Altaman; Lidenberger; Rohr; Heinemann; Kronsfoth; Wohlmuth; Weber; Schneidler; Bamberger; Richter; Schöpflein; Dr. Güth; Levy; Dr. Stein; Lehmann; Lindenberger; Dr. Traumann; Lippman; Dr. Moskowsky; Tessman; Jung; Speer; Sessler; Dr. Wolff; Flatau; Adler; Kuntz; Pawell; Loeb-Caldenhoff; Plüer; Gottheiner; Dr. Sterm; Dr. Maier; Dr. Löwenfeld; Kahn; Dr. Goldberg; Dr. Wasser.


Bibliografia:

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci, STRAUSS, Dieter. Brasil, um refúgio nos trópicos - Brasilien, Fluchtpunkt in den Tropen. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.
KOSMINSKY, Ethel Volfzon Kosminsky. Rolândia, A Terra Prometida. judeus REfugiados do Nazismo no Norte do Paraná. São Paulo: FFLCH / Centro de Estudos judaicos da USP, 1985.
Mello, Lucius de. A Travessia da Terra Vermelha - Uma saga dos refugiados judeus no Brasil.

História de vida:

Johannes Schauff foi deputado do Reichstag alemão de 1930 a 1933, quando perdeu todos os seus cargos oficiais. Anteriormente esteve envolvido em uma espécie de colonização interna na Alemanha. Sua experiência na área fez com que fosse nomeado membro da Sociedade para Estudos Econômicos no Além-Mar (Gesellschaft für Wirtschaftliche Studien in Übersee), cujo objetivo era investigar na América Latina locais adequados à colonização alemã. O governo alemão chegou a conclusão de que deveria encaminhar, sistematicamente, grupos de colonos para uma mesma localidade onde, em conjunto, adquirissem terras. Com esse objetivo Schauff viajou para a Argentina e Brasil. Em Londres foi assinado um contrato entre a companhia alemã e a inglesa. Schauff foi incumbido pelos ingleses de executar as transações tendo viajado nove vezes para o Brasil entre 1934 e 1939. Foi intermediário nos negocios com a Ferrostaal, uma das maiores empresas fabricantes de material ferroviário da época.
nJohannes Schauff atuou em Berlim, onde era encarregado de divulgar a oferta de terras no Brasil. Foi por seu intermédio que Ricardo Loeb-Caldenhof (classificado pelos nazistas como ¼ judeu) adquiriu terras (Fazenda Belmonte) localizadas na periferia de Rolândia. Esses trâmites ficaram conhecidos como "negócios triangulares", era possível comprar terras no Paraná através de uma conta vinculada com a Cia Paraná Plantations. Assim, o dinheiro depositado pelos judeus para o pagamento dos lotes não saia da Alemanha. Por este câmbio o comprador recebia um título que lhe garantia um determinado lote de terra. Esta foi uma das raras oportunidades que os judeus tiveram para transferir capital da Alemanha para o Brasil. Aqueles que já possuíam os lotes e um visto de entrada conseguiam salvar-se dos campos de concentração e extermínio.
nJunto ao acervo de Johannes Schauff existe uma lista de nomes que totaliza cerca de 59 famílias (145 pessoas) que teriam se fixado em Rolândia entre 1933-1939. Johannes Schauff teve que fugir para a Itália em 1936 por ter seu nome relacionado em uma lista de pessoas a serem eliminadas pelos nazistas. Schauff era perseguido por duas razões, por questões políticas e por ajudar judeus a fugirem da Alemanha. Refugiou-se no Vaticano para não ser enviado a um campo de concentração. Ali serviu de intermediário numa negociação entre o Papa Pio XII, seu amigo pessoal, e o governo brasileiro que mantinha em vigor circulares secretas contra essa imigração. A iniciativa partiu de dois importantes líderes do catolicismo alemão, Faulhaber, arcebispo de Munique e Berning, bispo de Osnabrück, que apelaram ao Papa em 31 de março de 1939. Essa negociação implicava na liberação de 3.000 vistos destinados apenas aos católicos não-arianos da Alemanha. Devido às dificuldades impostas pelo Brasil apenas 959 vistos foram concedidos por Hildenbando Accioly, embaixador em Roma. Os vistos restantes ficaram "congelados" por Cyro de Freitas Valle e Joaquim A. de Souza Ribeiro, diplomatas brasileiros em Berlim e Hamburgo, que se negaram a concedê-los. Em Rolândia vivem até hoje, várias famílias que ali se refugiaram nos anos 30 e que estiverem envolvidos com esta "empreitada" liderada por Schauff.

Palavras chave:

Alemanha; arcebispo; Argentina; Berlim; bispo; Brasil; catolico; circular; colonizacao; colono; diplomata; embaixador; familia; Inglaterra; judeu; negociacao; negocio; Papa; Parana; refugiado; Rolandia; terra; visto

Entrevista data:27/09/1989

Entrevista - cidade:Rolandia, Parana

* NOTA DO FARINA: Outras famílias de origem judaica/alemã vieram á Rolândia por outros meios, fixando residência, muitos adquirindo grandes fazendas, que hoje são referências em manutenção de reservas de matas e casas com arquitetura de inspiração alemã/europeia.