RECONSTRUÇÃO
Meu nome é Ruth Bárbara Steidle
Meus pais, Hans e Hildegard, recém casados, abandonaram a Alemanha e vieram ao Brasil em 1936. Estavam sem recursos financeiros e no novo país não entendiam a língua falada, estranhavam os usos e costumes, a comida e não sabiam cultivar a terra. Meio século depois, um de seus netos lhes perguntou: “qual foi o tempo mais feliz de suas vidas?” A resposta foi unânime: “o tempo da total carência na floresta, quando tivemos tanto a reaprender e conquistar... quando um dependia totalmente do outro... quando havia confiança... quando juntos festejávamos cada pequena vitória ou chorávamos juntos cada derrota.
Meus pais, mais velhos e experientes, depois da grande geada de 1975, enfrentaram novamente um grande desafio. O que mais doía ao meu pai era ter que demitir os empregados da fazenda de café. Novos tempos substituíram a mão de obra braçal por máquinas.
Eu nasci em 1938, estudei enfermagem, casei, morei 12 anos na Alemanha e quando voltei, sonhava em exercer aqui a minha profissão. Mas a saúde debilitada de meus pais me fez ficar na fazenda. Me adaptei as circunstâncias e descobri novos horizontes a partir do resgate da história pessoal. Hoje a fazenda Bimini é referencia em pesquisa florestal e na educação ambiental não formal.
No caso da pandemia covid 19, que tanto nos assusta no momento, vejo oportunidades interessantes, principalmente no campo da educação. Eu, por exemplo, ensino a arte de fazer pão ao meu neto e ele me ensina a arte de lidar com tecnologia de comunicação. Podemos resgatar, como base de uma reconstrução “pós-covid 19”, a dinâmica da história local e pessoal, para desenvolver conceitos como originalidade, autonomia e responsabilidade social.
