sábado, 18 de julho de 2020

JOHANNES SCHAUFF E A FUGA DE JUDEUS PARA ROLÂNDIA PARANÁ

Johannes Schauff foi deputado do Reichstag alemão de 1930 a 1933, quando perdeu todos os seus cargos oficiais. Anteriormente esteve envolvido em uma espécie de colonização interna na Alemanha. 
Sua experiência na área fez com que fosse nomeado membro da Sociedade para Estudos Econômicos no Além-Mar (Gesellschaft für Wirtschaftliche Studien in Übersee), cujo objetivo era investigar na América Latina locais adequados à colonização alemã
O governo alemão chegou a conclusão de que deveria encaminhar, sistematicamente, grupos de colonos para uma mesma localidade onde, em conjunto, adquirissem terras. 
Com esse objetivo Schauff viajou para a Argentina e Brasil. Em Londres foi assinado um contrato entre a companhia alemã e a inglesa. Schauff foi incumbido pelos ingleses de executar as transações tendo viajado nove vezes para o Brasil entre 1934 e 1939. 
Foi intermediário nos negocios com a Ferrostaal, uma das maiores empresas fabricantes de material ferroviário da época.
Johannes Schauff atuou em Berlim, onde era encarregado de divulgar a oferta de terras no Brasil. 
Foi por seu intermédio que Ricardo Loeb-Caldenhof (classificado pelos nazistas como ¼ judeu) adquiriu terras (Fazenda Belmonte) localizadas na periferia de Rolândia
Esses trâmites ficaram conhecidos como "negócios triangulares", era possível comprar terras no Paraná através de uma conta vinculada com a Cia Paraná Plantations. 
Assim, o dinheiro depositado pelos judeus para o pagamento dos lotes não saia da Alemanha. 
Por este câmbio o comprador recebia um título que lhe garantia um determinado lote de terra. 
Esta foi uma das raras oportunidades que os judeus tiveram para transferir capital da Alemanha para o Brasil
Aqueles que já possuíam os lotes e um visto de entrada conseguiam salvar-se dos campos de concentração e extermínio.
Junto ao acervo de Johannes Schauff existe uma lista de nomes que totaliza cerca de 59 famílias (145 pessoas) que teriam se fixado em Rolândia entre 1933-1939
Johannes Schauff teve que fugir para a Itália em 1936 por ter seu nome relacionado em uma lista de pessoas a serem eliminadas pelos nazistas. 
Schauff era perseguido por duas razões, por questões políticas e por ajudar judeus a fugirem da Alemanha. 
Refugiou-se no Vaticano para não ser enviado a um campo de concentração. 
Ali serviu de intermediário numa negociação entre o Papa Pio XII, seu amigo pessoal, e o governo brasileiro que mantinha em vigor circulares secretas contra essa imigração
A iniciativa partiu de dois importantes líderes do catolicismo alemão, Faulhaber, arcebispo de Munique e Berning, bispo de Osnabrück, que apelaram ao Papa em 31 de março de 1939. Essa negociação implicava na liberação de 3.000 vistos destinados apenas aos católicos não-arianos da Alemanha
Devido às dificuldades impostas pelo Brasil apenas 959 vistos foram concedidos por Hildenbando Accioly, embaixador em Roma. 
Os vistos restantes ficaram "congelados" por Cyro de Freitas Valle e Joaquim A. de Souza Ribeiro, diplomatas brasileiros em Berlim e Hamburgo, que se negaram a concedê-los. 
Em Rolândia vivem até hoje, várias famílias que ali se refugiaram nos anos 30 e que estiverem envolvidos com esta "empreitada" liderada por Schauff.

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