FOLHA DE LONDRINA
O legado dos carpinteiros japoneses
Casas construídas por imigrantes são carregadas de simbolismo; arquiteto londrinense resgatou trabalho em livro
Mônica Nakabayashi: "Precisamos resgatar sempre tudo que faz parte da nossa cultura e do que nos originou"
Londrina - Para quem é
leigo em arquitetura ou cultura japonesa, os poucos exemplares de casas
de madeira em Londrina que ainda restam em bairros como Vila Cazoni,
Vila Nova e Vila Brasil, construídas em sua maioria entre os anos 1950 e
1960, podem parecer iguais a outras tantas residências. Mas o legado
histórico e a marca cultural que os carpinteiros japoneses deixaram
nessas casas é inegável e digno de admiração, principalmente para
estudiosos da área.
Para resgatar e eternizar esse passado, já que o avanço da cidade não permitiu que a maioria dessas casas continuasse em pé, o arquiteto e professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Antônio Carlos Zani, dedicou um capítulo no livro "Arquitetura em Madeira" ao trabalho deixado pelos carpinteiros japoneses em Londrina. Zani sempre foi um entusiasta da arquitetura de madeira, e estudando as diferentes construções começou a perceber as diferenças das casas construídas por carpinteiros japoneses.
"Nos anos 1980 demoliu-se muitas dessas casas de madeira, então resolvi começar a registrar esses trabalhos, andando pela cidade e tirando foto de cada uma. Em relação a essas construções dos imigrantes japoneses, ficou um registro mesmo de como o povo vivia naquela época", ressalta. "A arquitetura de madeira embasou toda a construção da cidade. Muitos falavam que eram construções efêmeras, mas não é bem assim. Todo o Norte do Paraná foi construído com madeira, pela abundância do material, principalmente a peroba rosa, e também pela rapidez na construção, e muitas edificações permanecem até hoje", explica.
Zani chama atenção no livro a alguns elementos arquitetônicos que seriam característicos dos daikusan, como eram chamados os carpinteiros e "arquitetos" da colônia japonesa. "São características dessas casas o telhado com forte inclinação, chamado de irimoya, e também a guenkan, varanda, e os rendilhados geométrico utilizados no emolduramento das varandas, os ranma."
NOSTALGIA
Os elementos estéticos podem passar despercebidos para muitos, mas para nisseis e sanseis, no entanto, essas características são visíveis e nostálgicas.
A arquiteta Mônica Nakabayashi, que também fez um trabalho de graduação em 1989 sobre a arquitetura japonesa, acrescenta que alguns elementos decorativos também tinham uma função específica ligada à cultura oriental. "As casas que cataloguei tinham elementos decorativos como o onigawara, um elemento de cerâmica que ficava no alto da cobertura com a função simbólica de espantar maus espíritos." Outra característica importante eram os jardins, que estavam carregados de simbolismo e misticismo, segundo ela. "O jardim sempre tinha aspecto importantíssimo, pois não era apenas para embelezar. Os tipos de plantas, seu formato e posição sempre tinham relação com as crenças para trazer proteção aos moradores, para o dono e provedor da casa, contra mau olhado ou pessoas invejosas e espíritos ruins, e também para trazer fartura, sucesso e longevidade."
Homenagem
Mônica cresceu visitando regularmente uma casa onde todos esses simbolismos estavam presentes. Seu avô paterno, Torata Nakabayashi, participou de um mutirão e ajudou a construir a própria casa, na Vila Casoni. Segundo a arquiteta, era uma casa ampla, de três quartos, varanda e jardim com lago repleto de carpas – também muito importantes na cultura japonesa, porque trazem prosperidade, longevidade e boa sorte. "Infelizmente, a casa dos meus avôs já não existe mais. Foi consumida pelo fogo na época em que estava à venda após a morte deles. Ela foi apenas mais uma que na época não tinha mais valor nenhum nem para venda, e que seria destruída de qualquer forma para dar origem as edificações mais novas e modernas."
A arquiteta lamenta que o poder público e a maioria das pessoas não se preocupa em preservar esse trabalho histórico. "Infelizmente nossa cultura é assim, não dá valor nem preserva o antigo, ainda falta muito para o brasileiro entender e aprender que também precisamos do passado e resgatar sempre tudo que faz parte da nossa cultura e do que nos originou."
O trabalho da arquiteta, segundo ela, além de resgatar esse passado, também teve o intuito de homenagear seus antepassados. "Meus avós que aqui chegaram e ajudaram a construir um pouquinho desta linda cidade, e também à toda comunidade nipônica, deixando registrado um pouco da nossa cultura que ficou impregnada em Londrina."
Para resgatar e eternizar esse passado, já que o avanço da cidade não permitiu que a maioria dessas casas continuasse em pé, o arquiteto e professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Antônio Carlos Zani, dedicou um capítulo no livro "Arquitetura em Madeira" ao trabalho deixado pelos carpinteiros japoneses em Londrina. Zani sempre foi um entusiasta da arquitetura de madeira, e estudando as diferentes construções começou a perceber as diferenças das casas construídas por carpinteiros japoneses.
"Nos anos 1980 demoliu-se muitas dessas casas de madeira, então resolvi começar a registrar esses trabalhos, andando pela cidade e tirando foto de cada uma. Em relação a essas construções dos imigrantes japoneses, ficou um registro mesmo de como o povo vivia naquela época", ressalta. "A arquitetura de madeira embasou toda a construção da cidade. Muitos falavam que eram construções efêmeras, mas não é bem assim. Todo o Norte do Paraná foi construído com madeira, pela abundância do material, principalmente a peroba rosa, e também pela rapidez na construção, e muitas edificações permanecem até hoje", explica.
Zani chama atenção no livro a alguns elementos arquitetônicos que seriam característicos dos daikusan, como eram chamados os carpinteiros e "arquitetos" da colônia japonesa. "São características dessas casas o telhado com forte inclinação, chamado de irimoya, e também a guenkan, varanda, e os rendilhados geométrico utilizados no emolduramento das varandas, os ranma."
NOSTALGIA
Os elementos estéticos podem passar despercebidos para muitos, mas para nisseis e sanseis, no entanto, essas características são visíveis e nostálgicas.
A arquiteta Mônica Nakabayashi, que também fez um trabalho de graduação em 1989 sobre a arquitetura japonesa, acrescenta que alguns elementos decorativos também tinham uma função específica ligada à cultura oriental. "As casas que cataloguei tinham elementos decorativos como o onigawara, um elemento de cerâmica que ficava no alto da cobertura com a função simbólica de espantar maus espíritos." Outra característica importante eram os jardins, que estavam carregados de simbolismo e misticismo, segundo ela. "O jardim sempre tinha aspecto importantíssimo, pois não era apenas para embelezar. Os tipos de plantas, seu formato e posição sempre tinham relação com as crenças para trazer proteção aos moradores, para o dono e provedor da casa, contra mau olhado ou pessoas invejosas e espíritos ruins, e também para trazer fartura, sucesso e longevidade."
Homenagem
Mônica cresceu visitando regularmente uma casa onde todos esses simbolismos estavam presentes. Seu avô paterno, Torata Nakabayashi, participou de um mutirão e ajudou a construir a própria casa, na Vila Casoni. Segundo a arquiteta, era uma casa ampla, de três quartos, varanda e jardim com lago repleto de carpas – também muito importantes na cultura japonesa, porque trazem prosperidade, longevidade e boa sorte. "Infelizmente, a casa dos meus avôs já não existe mais. Foi consumida pelo fogo na época em que estava à venda após a morte deles. Ela foi apenas mais uma que na época não tinha mais valor nenhum nem para venda, e que seria destruída de qualquer forma para dar origem as edificações mais novas e modernas."
A arquiteta lamenta que o poder público e a maioria das pessoas não se preocupa em preservar esse trabalho histórico. "Infelizmente nossa cultura é assim, não dá valor nem preserva o antigo, ainda falta muito para o brasileiro entender e aprender que também precisamos do passado e resgatar sempre tudo que faz parte da nossa cultura e do que nos originou."
O trabalho da arquiteta, segundo ela, além de resgatar esse passado, também teve o intuito de homenagear seus antepassados. "Meus avós que aqui chegaram e ajudaram a construir um pouquinho desta linda cidade, e também à toda comunidade nipônica, deixando registrado um pouco da nossa cultura que ficou impregnada em Londrina."
Paula Barbosa Ocanha
Reportagem Local
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