domingo, 27 de janeiro de 2013

LONDRINA DOS ANOS 50 - RUBEM BRAGA


Arquivo FOLHAfolha de londrina

Rubem Braga, cronista de Londrina desde 1934

Escritor veio à cidade três vezes. Cada parágrafo de sua reportagem é uma crônica em tom avermelhado
Londrina na década de 1950: sob o olhar do maior cronista brasileiro, cidade crescia "com imponência", ficava "importantemente urbana", mas a poeira do trabalho ainda lhe dava "um ar rude"





O ano começa com Rubem Braga ocupando páginas e páginas de jornais e revistas, sem que seja ele a escrever, mas o motivo para muito se escrever. É a celebração do centenário (completado no último dia 12) de quem teve 15 mil crônicas publicadas em 62 anos de jornalismo, revelando a estética que consagrou um gênero antes considerado "literatura menor". 

No decorrer de 2013, as livrarias terão mais Rubem Braga; já em fevereiro começam a chegar pelo menos quatro reedições de livros seus e outro, em primeira edição, reunirá crônicas antes restritas ao jornal Correio da Manhã. 

Nenhum tem o título "Dois Repórteres no Paraná", o livro em que Rubem Braga informa ter conhecido Londrina em 1934, "quando, humilde e operoso repórter agrícola" acompanhou uma comissão de importadores europeus de café pelas zonas produtoras de São Paulo e Paraná. 

"A cidade, fundada pouco antes, tinha cerca de 2.000 habitantes", recorda. "Voltei em fins de 1940, para fazer, com amigos, uma caçada às margens do Tibagi, onde por sinal cacei, antes de tudo, uma bela maleita; e Londrina tinha 12.000 habitantes. Volto agora [em 1952] para encontrá-la com cerca de 35 mil." 

Rubem Braga tinha 20 anos de idade em 1934. "O Conde e o Passarinho", seu primeiro livro, saiu em 1936. Voltando a Londrina em 1952, lhe era impossível não ser ainda cronista da economia local. "Se em 1934 eu tivesse comprado no centro da cidade um lote de 15 por 40 teria pago 400 mil réis; hoje seria possível vendê-lo por 1 milhão de cruzeiros", fez a conta. "Também neste caso meu grande consolo é pensar que em 1934 eu não tinha, de maneira alguma, 400 mil réis disponíveis; e se tivesse os gastaria, com certeza, de modo mais divertido." 

Veio-lhe à mente "o amigo Rocha" (presumivelmente o titular do cartório) que "comprou em fins de 1939, em um bairro da cidade, uma casa de material por 15 contos de réis, com o terreno de 1.200 metros quadrados, e "vendeu isso em 1950 por 400 contos". Explica entre parênteses: "de material quer dizer: de tijolos, e não de madeira, como costumam ser as casas do interior do Paraná". 

Londrina é o título do texto. "Com apoio" na cidade, "as ondas de povoamento partiram em várias direções, a derrubar as matas, plantando cidades novas que começam a existir com violência antes que os mapas tomem conhecimento de seus nomes". No caso da violência, provavelmente refere-se a Porecatu, Jaguapitã e noroeste do Paranavaí, não nominados. 

Sob outro título, "Mundo Novo", Rubem relata o panorama geral de Londrina ("a capital"), em que despontam os afortunados, os vigaristas, as "damas" da boate que "pode chamar cantores internacionais que não vão a Curitiba" e "uma das maiores criminalidades do mundo". 

Cada parágrafo da reportagem é uma crônica em tom avermelhado, "a cidade é toda calçada, mas os caminhões e ônibus trazem para as ruas a lama e a poeira da fecunda terra roxa". Rubem hospedou-se no Hotel Londrina (atual Coroados), do médico Newton da Câmara. 

Capricho do então governador, Bento Munhoz da Rocha Netto, inebriado com a dinheirama do café, o livro "Dois Repórteres no Paraná" (Rubem Braga e Arnaldo Pedrosa d'Horta) teve a primeira edição em 1953 e reedição em 2001, ambas da Imprensa Oficial. O governo pagou pelas reportagens, mas o copyright passou aos familiares dos autores. 

Rubem e Arnaldo começaram pelo litoral e Curitiba e viajaram pelo interior em companhia de Bento. "Muito mais do que texto promocional, este livro é um relato de viagem, dentro já do estilo leve e rápido do novo mundo intelectual", observa Miguel Sanches Neto, na reedição. "Logo, é um Paraná vertido num idioma de primeira qualidade."

Widson Schwartz
Especial para a FOLHA

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