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Uma viagem ao passado de Londrina
Vagões usados pela Estação Ferroviária nas décadas de 30 e 70 foram restaurados pelo Museu Histórico
Rogério da Silva trabalhou como despachante de bagagem e supervisor de movimentação de trens de 1965 a 1982: lembranças saudosistas
''É uma emoção entrar nesses vagões depois de tantos anos'', afirma Jairo Barioni, 67 anos
Durante décadas, a estação ferroviária de Londrina foi a principal porta de entrada e saída da cidade. Da colonização à fase áurea do café, os trens foram responsáveis pela chegada das pessoas que ajudaram o município a ficar conhecido como a capital mundial do café. Dois dos vagões que fizeram parte deste cenário foram restaurados e poderão ser visitados a partir de hoje no Museu Histórico de Londrina.
''Conseguimos restaurar um vagão de passageiros e um vagão pagador. Os dois foram construídos em 1917 e utilizados entre as décadas de 30 e 70. O vagão de passageiros tem acomodações de primeira e segunda classe e o outro funcionava como um escritório, onde eram pagos os salários dos servidores das estações ferroviárias que eram administradas pelo Governo Federal'', explica a diretora do Museu Histórico, Regina Célia Alegro.
A restauração, que teve início em 2010, preservou as características originais dos vagões. ''Esses vagões foram cedidos ao Museu em 1998, quando passaram por uma pequena restauração e foram abertos para visita. Agora eles foram totalmente recuperados e poderão ser visitados novamente após a solenidade de entrega agendada para quinta-feira (hoje), às 8h30'', esclarece Regina.
Preservação
A preservação de pequenos detalhes chamou a atenção de dois ex-funcionários que durante décadas viam os vagões quase diariamente. ''Está tudo como era. É uma emoção entrar nesses vagões depois de tantos anos'', afirma Jairo Barioni, 67 anos, que começou a trabalhar em 1952 na estação ferroviária de Londrina, onde permaneceu até se aposentar, em 1982.
Barioni conta que durante esse período exerceu diversas funções. ''Comecei como mensageiro entregando telegramas pela cidade, depois atuei como contínuo e auxiliar de estação, entre outros cargos. Barioni lembra que na década de 70 os trens com destino a Curitiba e São Paulo transportavam até 1,5 mil passageiros. ''Naquela época a viagem até São Paulo era feita em 12 horas e até Curitiba em 24 horas devido ao grande número de paradas em dezenas de cidades que faziam parte destes dois roteiros'', ressalta.
Entre os detalhes conservados nos vagões de passageiros, Barioni destaca as diferenças entre as poltronas da primeira e da segunda classe. ''Enquanto na primeira classe as poltronas eram estofadas, as da segunda eram de madeira. Esse luxo custava cerca de 35% mais caro para os passageiros'', afirma.
Barioni salienta ainda que, além de passageiros, as locomotivas da época traziam vagões com mudanças, animais e remédios. ''Vi centenas de famílias chegarem de vários estados do país para trabalhar no cultivo do café nas décadas de 60 e começo de 70. E também assisti a maioria delas voltando às cidades de origem após a geada que acabou com o cultivo de café, em 1975.''
Exportação de café
Um dos colegas de trabalho dele naquela época diz que uma das imagens mais comuns antes da geada de 75 eram das sacas de café que eram encaminhadas aos principais portos do país. ''Eram transportadas cerca de 35 mil sacas por dia no começo da década de 70'', salienta Rogério da Silva, 69 anos, que trabalhou como despachante de bagagem e supervisor de movimentação de trens entre 1965 e 1982, quando a administração das linhas ferroviárias foi concedida a uma empresa privada.
Outra lembrança saudosista de Silva era a chegada dos rolos de filmes que abasteciam os cinemas da cidade. ''Na década de 60 havia nove salas de cinema em Londrina. Os filmes que seriam exibidos chegavam em dezenas de latas que eram acomodados em vagões exclusivos para esse material. Foi dessa forma que chegaram à cidade clássicos como E o Vento Levou'', detalhou.
Reflexão
A diretora do museu enfatiza que o objetivo da restauração é provocar a reflexão da comunidade. ''Foram investidos R$ 600 mil nesse processo, que teve início em 2010, sendo R$ 30 mil através de um patrocínio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura e o restante com recursos da Universidade Estadual de Londrina (UEL)'', explicou. ''Um investimento tão grande não se justificaria apenas pela tentativa de despertar emoção nas pessoas. Queremos que todos pensem como a cidade foi concebida, como ela está hoje, e como podemos projetar um futuro melhor para ela'', argumentou Regina.
Serviço - Museu Histórico de Londrina (Rua Benjamin Constant, 900). Horário de visitação: de terça a quinta-feira das 9 às 11h30 e das 14h30 às 17h30; sábados e domingos das 9 às 11h30 e das 13h30 às 17 horas. Entrada grátis
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