sexta-feira, 9 de agosto de 2024

FAMÍLIA FARINA PIONEIROS ROLÂNDIA - PR.

JOSÉ FARINA FILHO, meu pai, de saudosa memória, nasceu em Jardinópolis-Sp., onde morou na Fazenda do Visconde de Paraíba, até 1940. Seu pai, meu avô, Giuseppi Farina, chegou nesta fazenda com dois anos de idade, em 1896. Meu bisavô Pietro Sante Farina, tinha 30 anos quando começou a trabalhar nesta fazenda. Vieram como imigrantes de Ghisalba, Itália. Meu bisavô e avô, como tantos outros milhões de imigrantes, estavam sem oportunidades na Itália, quando havia desemprego. A Itália e outros países da Europa passavam por grave crise econômica. Os imigrantes chegaram em maior número logo após a libertação dos escravos. Vieram substituir e completar a mão de obra necessária para a lida dos cafezais que abundavam na região de ribeirão Preto. A fazenda que os meus avós trabalharam era tão grande que tinha uma estação de trens. Estive lá há dois anos atrás e filmei este prédio. Estação Visconde de Paranaíba by Farina. Está assim lá no Youtube.
Meu pai trabalhou e estudou nesta fazenda até os 15 anos quando mudaram para Rolândia, Paraná.
Chegaram em Rolândia em 1940 quando a cidade era ainda muito pequena.
Adquiriram um lote com 8 alqueires da companhia de terras norte do paraná, na gleba ciclone, localizado cerca de 2 km. da represa do Ingazinho. Pagamento a prazo. Com o direito para pagar as parcelas após as colheitas.
Seus vizinhos eram o Toninho Fávero, famílias Cavalaro, Martineli, Zanin, Poppi, Fávero, e o japonês Peixeiro.
Uma parte do lote já estava preparado para o plantio de café e cereais.
O restante da área foi preparada nos anos seguintes.
Lutaram com muitas dificuldades sem nenhum dos confortos que temos hoje.
As compras eram feitas em Rolândia nas mercearias Casa Abrunhosa, Casa Conte, casa Azul e Casa Guilherme.
Meu pai, avô e tios vinham a pé para a cidade. Demorou alguns anos após muito trabalho, até compraram um carroção com quatro rodas e um animal de tração.
Depois de muitos anos de muito trabalho compraram um rádio a pilha e um caminhão Ford 1948.
Nos anos da segunda grande guerra passaram alguns percalços. É que alguns brasileiros natos hostilizaram emigrantes italianos, alemães e japoneses.
Meu pai e avós para viajarem para qualquer lugar precisavam tirar “salvo conduto” na delegacia.
Meu pai falava que quando tinha que vir sozinho na cidade passava muito medo de onças, que ainda andavam perambulando pelas estradas.
Meu pai ficou feliz o dia em que ganhou uma lanterna de vidro, onde se colocava uma vela acesa. Assim, quando tinha festa na cidade, ele e meus tios Tonico e Irineu usavam esta lanterna . Ajudava espantar as onças. Quando chegavam na cidade, escondiam a lanterna em alguma moita, próximo ao atual Ginásio de Esportes.
NO tempo da guerra passaram muitas dificuldades para comprar alimentos. Quase tudo era racionado, principalmente querosene, farinha de trigo e açúcar.
Para substituir o açúcar eles moíam cana e faziam melado. Para substituir a farinha de trigo minha avó usava fubá. Meu pai falava que gostava muito das broinhas de fubá.
Em 1951 meu pai conheceu minha mãe em um baile lá no Caramuru. Minha mãe morava próximo a Fazenda Santa Ernestina, que existe até hoje. Casaram em 1952 e ficaram morando e trabalhando no sítio do meu avô Giuseppi.
Meus pais trabalharam na lida do café neste sítio por quatro anos. Meus irmãos Pedro e Paulo, nasceram ali neste sítio. Vieram a luz pelas mãos da minha vó materna Dolores.
Em 1955 meu pai comprou um jipe e começou a trabalhar como corretor de imóveis vendendo lotes na região de Umuarama e Maria Helena, que estava sendo desbravada.
Nesta época meu pai comprou um terreno na Av. Presidente Bernardes onde construiu uma casa de madeira feita com taboas de peroba. Minha mãe Sebastiana Martinez Farina, hoje com 90 anos, mora ainda nesta residência..
Eu e meus irmãos Marco Antônio, Dolores e Sandra nascemos nesta casa.
Nesta época não havia água encanada. Todas as casas possuíam poços com sarilhos .
As ruas eram com terra. A prefeitura tinha um caminhão para aguar as vias.
A energia elétrica era fraca. As lâmpadas da iluminação pública parecia uns tomates.
Os garis que varriam as ruas utilizavam carroças puxadas por cavalos.
Nesta época a prefeitura permitia que se criasse galinhas e porcos na cidade. Por este motivo havia muitas moscas. Tínhamos que dedetizar a nossa casa várias vezes por dia.
90% das famílias utilizavam fogões a lenha . Uma vez por semana meu pai com os filhos tinham que cortar lenha com trançador e Machado.
Sempre tivemos horta em casa. A família toda cuidava na hora de semear, ralear, tirar matos, replantar e aguar. os filhos vendiam verdura para a  vizinhança. Saíamos com cestas cheias. O dinheiro a gente usava para pagar a matinê do cinema, aos domingos, 14 horas.
Os filhos ajudavam a mãe nos cuidados da casa. Revezávamos para lavar louças, varrer a casa, limpar banheiro e capinar o quintal. Pedíamos bença para os para os pais, avós e tios.
Diversão era ouvir radio novelas e assistir filmes aos domingos no Cine ROLÂNDIA.
Não havia postos de saúde. Em caso de doenças tínhamos que negociar com os médicos particulares.
Não havia Vans. Íamos a pé para a escola. A merenda na escola era quase sempre sopa de fubá. Havia bullyng mas não reclamávamos com os pais, Tínhamos que resolver sozinhos.
A maioria dos meninos começaram a trabalhar aos 12 anos, como aprendiz. Não havia reclamações trabalhistas.
Rolândia tinha apenas quatro policiais e eles davam conta do serviço. Quase não ocorria crimes. Não havia drogas e maconheiros. Podíamos dormir com as portas abertas. Não havia ladrões.
Havia padeiros e leiteiros que entregavam pão e leite nas casas para pagar por final do mês.
O povo tinha muita fé e respeito pelas autoridades . Os juízes tinham pouco serviço.
A maioria da população morava na zona rural e havia muita fartura de alimentos, frangos e porcos.
Não havia super mercados. A população comprava nas vendas e mercadinhos. As mercadorias eram colocadas em sacos de papel e amarradas com jornal e barbante. Óleo era envazado em litros. Tudo era anotado em cadernetas.
Naquela época iogurte, refrigerantes maçãs e sorvetes eram produtos para os ricos. 
Haviam poucos telefones na cidade. Para ligar para alguém precisava pedir a ligação para uma telefonista. Inter urbano às vezes demorava horas para completar a chamada.
A televisão canal 3 chegou nos anos 60 e só os ricos tinham aparelhos. Os mais pobres se utilizavam do tele vizinho.
A prefeitura nos anos 70 instalou uma TV na praça castelo branco. No tempo dos irmãos coragem.
90% das casas eram de madeira. Taboas de peroba...
As casas tinham o famoso rapa pé para tirar o barro dos sapatos.
Muitas casas tinham flores plantadas em latas.
Um sonho de consumo era tomar sorvete na Sorveteria Holandesa.
Não havia costume de consumir lanches e pizzas. Poucos sabiam o que era hot dog  e hambúrguer.
Jantar e almoçar em restaurantes era um luxo pra poucos.
Só criança rica tinha lápis de cor com 24 cores.
Nesta época também havia a zona do meretrício localizada no km. 5. No começo dos anos 80 incendiaram a zona. Ninguém soube quem ateou fogo lá.
Havia muitas crianças. E todas brincavam nas ruas. Brincavam de salva, rela rela, balança caixão, passa anel, esconde esconde, estilingue, bilboquê, betis , bolinha de vidro, peão, bang bang, pipas e futebol.
A gente via muitas carroças e cavaleiros transitando pelas ruas.
Havia a vacinação contra a varíola com pistolas. A molecada corria de medo. Doía na alma.
Havia muitas festas juninas nos sítios com fogueiras e guloseimas. Erguiam os mastros com as imagens dos Santos com muito foguetório.
Os namoros eram sempre na casa da namorada, na presença da família.
Os noivos tiravam fotos com os presentes recebidos que ficavam sobre uma cama.
Meus pais com muita economia e trabalho conseguiram formar cinco filhos em faculdades.
Meu pai amava Rolândia e o norte do Paraná. Sempre falava que esta região é maravilhosa. Ele gostava de tudo daqui principalmente do Nacional Atlético Club, o NAC, onde ele foi diretor e nunca perdeu um jogo. Quando o Nacional jogava fora de casa ele sempre dava em jeito e ia assistir e torcer, sempre levando os filhos.
Meu pai uma vez me falou para eu enaltecer e divulgar em meu canal e Blog tudo de bom que existe em Rolândia, porque “esta cidade nos recebeu bem e propiciou que a gente trabalhasse e prosperasse. Rolândia e região é um dos melhores lugares do Brasil”, - disse uma vez.
Só tinha uma coisa que deixava o meu pai bravo: é quando as autoridades e povo não prestigiavam o time do Nacional.
Minha mãe Sebastiana, também por sua vez, trabalhou muito desde pequena na roça. Depois de casada continuou na roça por alguns anos. Depois mudou para a cidade no endereço acima mencionado. Não foi fácil cuidar e educar seis filhos até que se formassem. As ruas da cidade nos anos 50 e 60 eram de terras. Tinha muitas crianças na vizinhança. A molecada dava muito trabalho. Brincando no barro, as vezes sujando a casa. Havia muitas brigas de crianças. Enfim não foi fácil. Mas ele sempre nos vestia com terninhos e nos levava para a missa e as matinês do Cine Rolândia.
No Natal e ano novo a família se reunia com os tios, avós e primos e éramos muitos felizes com nossa família sempre unida.
Nos anos 80 meu pai sempre que podia levava a família para a praia de Martinhos. Nós íamos todos de jipe e levávamos roupas, panelas e alimentos. Ficávamos em casas simples alugada, mas foram momentos muitos felizes e inesquecíveis.
Tempo bom também eram minhas férias no sítio do meu avô materno João Martinez. Passava os 30 dias de julho e dezembro, ajudando meu avó e tio na lida da roça, mas com algum tempo também para nadar no rio, caçar de estilingue, andar a cavado, pescar com peneira, chupar mexerica, e tangerina subindo na árvore.
A noite ficávamos comendo pipoca ouvindo os causos de assombração contados pelo meu avô, pelo meu tio e vizinhos que nos visitavam.
Lembro sempre do meu avô ouvindo a “voz do Brasil” no rádio e meu tio ouvindo música caipira, enquanto fumavam um cigarro de palha.
Meu pai faleceu em 2005 aos 78 anos. Ele foi homenageado com o nome de uma das Ruas do Jardim dos Pioneiros. Meus avós Giuseppi (José) e Adelaide também foram homenageados com nomes de ruas.
Minha mãe hoje está com 90 anos. Ela, uma vez, me concedeu entrevista no meu canal do Youtube dizendo que ama Rolândia e que aqui é um lugar muito bom que nos acolheu e nos deu muitas oportunidades. Ela também fala que devemos nos orgulhar e defender Rolândia sempre. Que os políticos têm que trabalhar com honestidade para que a cidade cresça e prospere cada vez mais.
Esta foi parte da trajetória da família Farina e Martinez em Rolândia. Espero que sirva para estimular as novas gerações para que amem e cuidem bem da cidade. Amamos Rolândia e o norte do Paraná.

Por JOSÉ CARLOS FARINA.







Pioneira de Rolândia: Helga Appel

 




(TEXTO DE PAULO AUGUSTO FARINA)

Sonja Helga Trude Appel nasceu na Alemanha em 1933. Um ano após a ascensão do nazismo, seus pais venderam tudo o que possuíam e emigraram para o Brasil. Adquiriram 12 alqueires na colônia alemã de Terra Nova, em Castro. Na Alemanha, sua família era proprietária de um cinema. Não possuíam nenhum conhecimento sobre agricultura e, por esta razão, enfrentaram inúmeras dificuldades. Na década de 40, seus irmãos mais velhos Willie e Walter Stegmann vieram para Rolândia trabalhar como carpinteiros e gostaram da cidade. Adquiriram um sítio onde hoje é o Jardim Primavera e trouxeram os pais e a irmã pequena. Ali a família se dedicou à pecuária leiteira. Era Helga que, além de ajudar no trato dos animais, fazia a entrega da produção à cavalo. Após a guerra voltou para a Alemanha em busca de melhores oportunidades. Trabalhou em uma fábrica de relógios onde conheceu seu futuro marido, Sigfried Appel. Ainda na Alemanha, casaram e tiveram a primeira filha, Ilona Appel Farina, minha mãe. Como Sigfried não queria ficar na Alemanha (devido aos traumas da guerra e do nazismo) Helga o convenceu a emigrar para o Brasil. Ele queria ir para a Austrália. Foi assim que voltou à Rolândia, onde abriram uma relojoaria e tiveram mais dois filhos: o Engenheiro Roger Roland Appel e Angela Appel Nabhan. Viúva muito jovem, assumiu a criação dos filhos pequenos trabalhando como costureira. Não mais se casou. Tinha um profundo amor por Rolândia, cidade onde passou a maior parte da vida e onde seus filhos, netos e bisnetos vivem até hoje. Faleceu em 05 de Março de 2021 e está sepultada no Cemitério Central, ao lado de seu marido.

Pioneiros de Rolândia: Sigfried Appel

 




(TEXTO DE PAULO AUGUSTO FARINA)

Não conheci meu opa. O pouco que sei sobre sua vida são fragmentos, narrados pela oma. Registro alguns deles para que sua história não se perca. Sua vida é muito parecida com a maioria dos refugiados alemães de Rolândia que tiveram suas vidas dilaceradas pelo advento do nazismo. Dramas eternizados pelo célebre escritor israelense Aharon Appelfeld (1932 – 2018). Aliás, a leitura de Appelfeld é fundamental para uma melhor compreensão desta história. Ele narra o drama de famílias em assimilação. Pessoas que eram alemãs em língua e cultura, tolhidas pelas Leis de Nuremberg. O totalitarismo nazista começou aos poucos... Meu opa e seu irmão foram perseguidos pela juventude hitlerista na escola. O irmão dele teve o nariz quebrado por militantes. Posteriormente, acabaram enviados para campos de trabalho. Sigfried tinha apenas 9 anos quando foi parar em um deles. Narrava que eram tratados com sopa feitas com restos e, como era um menino, raramente conseguia uma cabeça de peixe, a iguaria da refeição... Acabou desnutrido. A última fábrica em que trabalhou, era de munições. Todos os dias, pela manhã, os presos eram obrigados a perfilarem-se, nus. No fim da Guerra, um Oficial verificava se ainda havia condições de trabalho e, em caso contrário, os selecionados eram enviados ao front para atravessarem campos minados. Chegou perto de ser enviado para a morte. Um belo dia os soldados deixaram a fábrica: Os soviéticos estavam chegando... Sigfried colocou umas granadas no bolso e saiu correndo em direção ao front russo. Era apenas um jovem, sem pai, mãe, em pele e ossos... Como o sobretudo estava aos farrapos perdeu as granadas: Sorte! Quando chegou à linha russa, foi revistado. Como estava desarmado, levaram-no ao Oficial que mandou liberá-lo: Deixem esse aí, ele não consegue andar mais 500 metros... Sobreviveu. Não mais encontrou pai, mãe e irmão. Estava sozinho, em uma terra devastada e sob domínio soviético. Sua cidade natal, Breslau, fora anexada pela Polônia. Não demorou muito para perceber que o regime comunista era tirânico e sem perspectivas. Rumou para o Oeste. Acabou conseguindo trabalho em uma Fábrica de Relógios, em Schwenningem, onde conheceu a oma, Helga. Casou e deixou a Alemanha, mas os fantasmas do passado o perseguiram por toda a vida... Faleceu aos 44 anos e está sepultado no Cemitério Central de Rolândia. Atualmente, no Jardim Capricórnio, há uma rua em sua memória.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

FAMÍLIA FARINA ( ROLÂNDIA-PR. )

    

JOSÉ FARINA FILHO, meu pai, de saudosa memória, nasceu em Jardinópolis-Sp., onde morou na Fazenda do Visconde de Paraíba, até 1940. Seu pai, meu avô, Giuseppi Farina, chegou nesta fazenda com dois anos de idade, em 1896. Meu bisavô Pietro Sante Farina, tinha 30 anos quando começou a trabalhar nesta fazenda. Vieram como imigrantes de Ghisalba, Itália. Meu bisavô e avô, como tantos outros milhões de imigrantes, estavam sem oportunidades na Itália, quando havia desemprego, A Itália e outros países da Europa estavam em grave crise econômica. Os imigrantes chegaram em maior número logo após a libertação dos escravos. Vieram substituir e completar a mão de obra necessária para a lida com os cafezais que abundavam na região de ribeirão Preto. A fazenda que os meus avós trabalharam era tão grande que tinha uma estação de trens. Estive lá há dois anos atrás e filmei a mesma. Estação Visconde de Paranaíba by Farina. Está assim lá no Youtube.
Meu pai trabalhou e estudou nesta fazenda até os 15 anos quando mudaram para Rolândia, Paraná.
Chegaram em Rolândia em 1940 quando a cidade era ainda muito pequena.
Adquiriram um lote com 8 alqueires da companhia de terras norte do paraná, na gleba ciclone, localizado cerca de 2 km. da represa do Ingazinho. Pagamento a prazo. para pagar as parcelas após colheitas.
Seus vizinhos eram o Toninho Fávero, famílias Cavalaro, Martineli, Zanin, Poppi, Fávero, e o japonês Peixeiro.
Uma parte do lote já estava preparado para o plantio de café e cereais.
O restante da área foi preparada nos anos seguintes.
Lutaram com muitas dificuldades sem nenhum dos confortos que temos hoje.
As compras eram feitas em Rolândia nas mercearias Casa Abrunhosa, Casa Conte, casa Azul e Casa Guilherme.
Meu pai, avô e tios vinham a pé para a cidade. Demorou alguns anos após muito trabalho, até compraram o carroção com quatro rodas e um animal de tração.
Depois de muitos anos de muito trabalho compraram um rádio a pilha e um caminhão Ford 1948.
Nos anos da segunda grande guerra passaram alguns percalços. É que alguns brasileiros natos hostilizaram italianos, alemães e japoneses.
Meu pai e avós para viajarem para qualquer lugar precisavam tirar “salvo conduto” na delegacia.
Meu pai falava que quando tinha que vir sozinho na cidade passava muito medo de onças, que ainda andavam perambulando pelas estradas.
Meu pai ficou feliz o dia em que ganhou uma lanterna de vidro, onde se colocava uma vela acesa. Assim, quando tinha festa na cidade, ele e meus tios Tonico e Irineu usavam esta lanterna . Ajudava espantar as onças. Quando chegavam na cidade, escondiam a lanterna em alguma moita, próximo ao atual Ginásio de Esportes.
NO tempo da guerra passaram muitas dificuldades para comprar alimentos. Quase tudo era racionado, principalmente querosene, farinha de trigo e açúcar.
Para substituir o açúcar eles moíam cana e faziam melado, para substituir a farinha de trigo minha avó usava fubá. Meu pai falava que gostava muito das broinhas de fubá.
Em 1951 meu pai conheceu minha mãe em um baile lá no Caramuru. Minha mãe morava próximo a Fazenda Santa Ernestina, que existe até hoje. Casaram em 1952 e ficaram morando no sítio do meu avô Giuseppi.
Meus pais trabalharam na lida do café neste sítio por quatro anos. Meus irmãos Pedro e Paulo, nasceram ali neste sítio. Vieram a luz pelas mãos da minha vó materna Dolores.
Em 1955 meu pai comprou um jipe e começou a trabalhar como corretor de imóveis vendendo lotes na região de Umuarama e Maria Helena, que estava sendo desbravada.
Nesta época meu pai comprou um terreno na Av. Presidente Bernardes onde construiu uma casa de madeira feita com taboas de peroba. Minha mãe Sebastiana Martinez Farina, hoje com 90 anos, mora ainda nesta residência..
Eu e meus irmãos Marco Antônio, Dolores e Sandra nascemos nesta casa.
Meus pais com muita economia e trabalho conseguiram formar cinco filhos em faculdades.
Meu pai amava Rolândia e o norte do Paraná. Sempre falava que esta região é maravilhosa. Ele gostava de tudo daqui principalmente do Nacional Atlético Club, o NAC, onde ele foi diretor e nunca perdeu um jogo. Quando o Nacional jogava fora de casa ele sempre dava em jeito e ia assistir e torcer, sempre levando os filhos.
Meu pai uma vez me falou para eu enaltecer e divulgar em meu canal e Blog tudo de bom que existe em Rolândia, porque “esta cidade nos recebeu bem e propiciou que a gente trabalhasse e prosperasse. Rolândia e região é um dos melhores lugares do Brasil”, - disse uma vez.
Só tinha uma coisa que deixava o meu pai bravo: é quando as autoridades e povo não prestigiavam o time do Nacional.
Minha mãe Sebastiana, também por sua vez, trabalhou muito desde pequena na roça. Depois de casada continuou na roça por alguns anos. Depois mudou para a cidade no endereço acima mencionado. Não foi fácil cuidar e educar seis filhos até que se formassem. As ruas da cidade nos anos 50 e 60 eram de terras. Tinha muitas crianças na vizinhança. A molecada dava muito trabalho. Brincando no barro, as vezes sujando a casa. Havia muitas brigas de crianças. Enfim não foi fácil. Mas ele sempre nos vestia com terninhos e nos levava para a missa e as matinês do Cine Rolândia.
No Natal e ano novo a família se reunia com os tios, avós e primos e éramos muitos felizes com nossa família sempre unida.
Nos anos 80 meu pai sempre que podia levava a família para a praia de Martinhos. Nós íamos todos de jipe e levávamos roupas, panelas e alimentos. Ficávamos em casas simples alugada, mas foram momentos muitos felizes e inesquecíveis.
Tempo bom também eram minhas férias no sítio do meu avô materno João Martinez. Passava os 30 dias de julho e dezembro, ajudando meu avó e tio na lida da roça, mas com algum tempo também para nadar no rio, caçar de estilingue, andar a cavado, pescar com peneira, chupar mexerica, e tangerina subindo na árvore.
A noite ficávamos comendo pipoca ouvindo os causos de assombração contados pelo meu avô, pelo meu tio e vizinhos que nos visitavam.
Lembro sempre do meu avô ouvindo a “voz do Brasil” no rádio e meu tio ouvindo música caipira, fumando um cigarro de palha.
Meu pai faleceu em 2005 aos 78 anos. Ele foi homenageado com o nome de uma das Ruas do Jardim dos Pioneiros. Meus avós Giuseppi (José) e Adelaide também foram homenageados com nomes de ruas.
Minha mãe hoje está com 90 anos. Ela, uma vez, me concedeu entrevista no meu canal do Youtube dizendo que ama Rolândia e que aqui é um lugar muito bom que nos acolheu e nos deu muitas oportunidades. Ela também fala que devemos nos orgulhar e defender Rolândia sempre. Que os políticos têm que trabalhar com honestidade para que a cidade cresça e prospere cada vez mais.
Esta foi parte da trajetória da família Farina e Martinez em Rolândia. Espero que sirva para estimular as novas gerações para que amem e cuidem bem da cidade. Amamos Rolândia e o norte do Paraná.


Por JOSÉ CARLOS FARINA.
ROLÂNDIA, 07/08/2024.